Sede do festival
Monção / Barbeita
Monção / Barbeita
Terra de Deu-La-Deu, das termas e do “Alvarinho”, ganhou justa fama desde o séc. XVI, altura em que os ingleses, pelo porto de Viana, importavam vinho “tinto” de Monção, a que chamavam “Eager Wine”, juntamente com panos de linho, mel, cera e cordagens. No regresso, as naus traziam bacalhau.
Parece que o vinho mal envasilhado, de início não agradou aos ingleses, razão porque mandaram vir tanoeiros que ensinaram aos vianenses a sua técnica especial.
Da feitoria inglesa, essencialmente da freguesia de Pinheiros, seguiam os cascos em carros de bois até ao Carregadouro, célebre porto fluvial, em frente a S. Martinho da Gândara, pelo caminho de Refóios.
E na “prática dos compadres” não é o quinhentista António Ribeiro Chiado quem manda dizer a uma das personagens.
Mas Monção é, também, a terra da “Coca”, da “Santa Coca”, da “Coca Rabixa”. A luta do bem sobre o mal, da verdade sobre a mentira do Arcanjo S. Miguel sobre o Dragão, são significados religiosos, infelizmente desaparecidos no Alto Minho. A “coca” monçanense está intimamente ligada à procissão de “Corpus Christi” e à conhecida lenda de S. Jorge.
S. Jorge, acudindo ao apelo angustiado de uma jovem princesa do rei da Líbia, mata com a sua lança o dragão que a queria devorar. Esta, impressionada pela heroicidade do Santo, converteu-se ao Cristianismo. Em harmonia com a tradição da “Coca” simbolizando o dragão, a que o povo tanto chama a “Santa Coca”, o “Diabo da Coca” ou a “Coca Rabixa”: “Por bia da Santa Coca Rabixa perdi o diacho da Missa”! Sai na manhã da procissão do “Corpo de Deus” “passeando” pelas ruas de Monção.
Na Procissão a que não falta o “Carro das Hervas”, cheio de verdura, rapaziada e S. Cristóvão, o advogado das crianças “biqueiras”; o “boi bento” todo enramilhetado de fitas e cores, e as duas figuras principais do auto – a “Coca” arrastando-se vagarosamente pelas ruas e calçadas, um monstro anfíbio de escamas reluzentes, com largas queixadas móveis e uma língua tremulante implantada em cabeçorra que volta à direita e à esquerda, criando um misto de espanto e de incredulidade aos numerosos devotos da “Rabixa”, logo seguida de S. Jorge, em carne e osso, vestido a rigor, armado de lança e espada, capacete e broquel, montando um cavalo de verdade.
Finda a procissão, todos, no fim do préstimo se deslocam para o Campo do Souto. Aí, ofegante, vaidosa e cidrada, está a Santa Coca e a “filhota” que em alguns anos também se faz representar. Dizem os escritos que a “Coquinha” pequena até fez mossas à matrona da mãe e uma certa ciumeira, tão aperaltada que está na sua aparição. Pois bem, a “Santa Coca”, agora com nova vestimenta, mais escamosa, mais brilhante, chega mesmo a criar um bom susto a um S. Jorge, novato e pouco experiente em manejar um cavalo de bom porte. E o público aplaude mesmo em investidas da “bicha”. Mas, depois do cavalo saltar os terrenos da “Coca” e se familiarizar com o “monstro”, S. Jorge pode à vontade desfechar uma boa série de espadeiradas na cabeçorra da “bicha” que se encolhe e foge, recebendo os “urrah” da multidão. “S. Jorge, venceu!…”.
A origem de Monção, perde-se na noite dos tempos. Por aqui teriam passado, muito antes da era de Cristo, Assírios e Gregos. Os Gregos ter-lhe-iam dado o nome de Obobriga que mais tarde os Romanos ou Suevos mudariam para Mon-Santus, a tradução para o latim do primitivo nome Grego e que teria dado em seguida Monsão e Monção. A povoação encontrava-se localizada na actual aldeia de Cortes, ou Monção Velho, mas, por qualquer circunstância, foram os seus habitantes obrigados a mudar para Badim distante uns dez quilômetros. A vila foi extinta por D. Afonso III.
E com os seus habitantes aos da Penha da Rainha, fundou aquele monarca, no ano de 1261, a vila de Monção, dando-lhe foral, no local então denominado Couto de Mazedo. Em 1306 D. Dinis dotou-a de fortes muralhas, levantando uma torre forte, que servisse de menagem e que chamavam castelo, ajudando os seus habitantes a sustentar vários cercos nas lutas com Castela, nomeadamente nos reinados de D. Fernando e D. João IV. A praça tinha cinco portas: a do Rosal, a da Fonte, a do Sol, a de S. Bento e a de Salvatierra, assim denominada por estar próxima da vizinha povoação espanhola que durante a guerra da Restauração esteve muitos anos de posse dos Espanhóis. Se as pedras, carcomidas pela acção do tempo, falassem, não encontrariam palavras para definir os actos de bravura e de heroísmo, que os Monçanenses carretaram, para manter a gloriosa independência da Pátria. De certa época para cá, Monção, leva nas suas mulheres verdadeiras heroínas. Talvez os actos de heroicidade por elas cometidos influíssem para a justificação do titulo de “Mui Nobre e Leal “. O seu brazão de armas representa em campo branco uma torre, de cujo alto sai um busto de mulher, tendo um pão em cada mão e em volta esta legenda: “ DEUS O DEU DEUS O HÁ DADO“